RESENHA: O PROCESSO - Franz Kafka

O Processo, uma obra-prima de Franz Kafka foi, sem dúvidas, um dos livros mais difíceis que já li. Quiçá o mais desafiador.

Título: O Processo

Autor(a): Franz Kafka

Título original: Der Prozess

Tradutor(a):Modesto Carone

Editora: Companhia das Letras

Ano: 2005

Número de páginas: 272 páginas

Edição: 1ª (12ª reimpressão)

Josef K. do nada recebe um processo. Assim, sem mais nem menos. Ninguém nos explica por que ele está sendo processado, quem o está processando, qual a gravidade, o teor, enfim, o que aconteceu.

Tudo o que sabemos é que K. é inocente, porque ele se afirma como tal. O narrador o afirma como tal.

Alguém certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum.

E é dessa forma que esse livro desesperador, complicado, embora genial inicia.

Ao mesmo tempo que o leitor fica curioso para saber o que aconteceu, se K. vai ou não poder provar sua inocência, também bate um cansaço devido a linguagem utilizada por Kafka, que abusa de diálogos e descrições. Essa linguagem é tão trabalhada que você consegue sentir os cheiros e imaginar os lugares, ver as cenas. Mas é tudo tão confuso... Assim como essa história toda.

Uma hora K. vai para o fórum, outra ele é detido... e o tempo todo ele fica tentando, desesperadamente, provar sua inocência.

Neste enredo, alguns personagens caricatos vão aparecendo para ajudar ou atrapalhar essa busca pela inocência.

Em algum momento da narrativa eu tive a suposição de que talvez K. estivesse morto e o processo fossem seus pecados, numa visão judaico-cristã do purgatório. Essa tentativa era para saber se ele seria enviado para o paraíso (inocente) ou inferno (culpado). Mas talvez essa minha interpretação seja simplista demais, e já esteja muito batida.

O posfácio traz uma interpretação mais inteligente: Kafka era judeu, que viveu em Praga (atual República Tcheca), que na sua época pertencia à Austra-Hungria. Bem nessa época aconteceu uma política horrorosa chamada de Nazismo. E por conta disso, milhões de judeus eram executados sem mais nem menos. Sem direito a defesa. Sem culpa alguma. Bom, talvez você consiga tirar suas próprias conclusões.

O que eu quero ressaltar é que ler O Processo é ficar preso num pesadelo. Sabe aquele sonho em que você corre, mas não sai do lugar? É exatamente essa a sensação. É desesperador, sufocante... Não é nem de longe uma leitura fácil e eu não ouso dizer aqui que entendi esse livro.

Passei vários meses para ler a primeira metade e apenas dois dias lendo o restante. Você precisa estar realmente curioso (a) para saber o que vai acontecer, aí a narrativa do Kafka te fisga e se torna absolutamente impossível fechar o livro e escapar desse lugar sombrio.

Quero comentar a respeito da edição maravilhosa da Companhia das Letras, sendo esta a versão de bolso:

Tem páginas amareladas, uma fonte confortável, tanto na tipografia quanto no tamanho, uma boa diagramação. Só não gostei muito da organização dos asteriscos. Vou explicar:

O livro é uma obra inacabada do Kafka, que entregou a obra ao amigo Max Brod. Kafka desejava que tudo o que não foi publicado em vida fosse destruído, mas Brod resolveu contrariar a vontade do autor e publicou a sua obra. Mas o Kafka tinha um sistema de organização bastante confuso na hora de escrever. Esta edição passou pelas adaptações de Max Brod, que organizou o manuscrito.

Dessa forma, os asteriscos se referem a anotações do Kafka, a parágrafos que foram suprimidos da versão final, por não fazerem sentido ou por estarem meio "soltos" ali. Não é necessário ler, mas eu sou curiosa. Aí me atrapalhei um pouquinho porque tinha que ir no fim do livro, ver a página e a linha. Sorte que são poucos!

Apesar de ser uma edição com poucas páginas (menos de 300), a lombada é bastante frágil e a minha arrebentou durante a leitura. Não que eu ligue, Mas tem quem sofra com isso.

Eu acho essa capa lindíssima e também amo esse projeto gráfico minimalista e elegante do miolo.

Nota: