Hoje vou contar para vocês um
pouco sobre a profissão de fisioterapeuta. Ao invés de me aprofundar no dia-a-dia
da profissão (acho que é relativamente fácil encontrar textos sobre isso) quero
focar num assunto tabu: os rendimentos.
A fisioterapia é uma profissão relativamente
nova, mas sofreu um “boom” nos últimos 15 anos com a proliferação de muitas
faculdades – o resultado é pouca gente antiga no mercado mas muita meninada
nova. Algumas áreas acabaram sobrecarregadas nas grandes cidades mas ainda há
um déficit de fisioterapeutas no país em muitas regiões. E há áreas pouco
exploradas mesmo nos grandes centros, carecendo de profissionais
especializados.
São múltiplas as áreas de
atuação: ortopedia, neurologia, respiratória, dermato-funcional, pediatria,
neonatologia, saúde da mulher, desportiva, geriatria, preventiva, saúde
pública, entre várias outras. Se fosse pra falar só sobre as possibilidades de
atuação da fisioterapia eu já passaria escrevendo sem parar então vou me
concentrar no que trabalhei mais tempo.
Me formei na Universidade Federal
de Santa Maria, que tem um dos cursos de fisioterapia mais antigos do país. A
faculdade foi uma experiência incrível e acho que valeu muito a pena deixar
minha cidade pra mudar pra outro estado pra estudar. Se tiver a oportunidade,
se jogue pois a gente agrega muito em vários aspectos. Eu tive professores
excelentes e estudar numa federal é sempre um motivo de orgulho. Mas sabem,
descobri anos mais tarde que mesmo em universidades particulares em cidades
menores é possível encontrar professores fantásticos. Hoje eu trabalho em um
hospital e tenho colegas mega gabaritadas que são professoras maravilhosas e
dão aulas em faculdades locais. E depois
que sair da faculdade, quando estiver no mercado de trabalho, vai perceber que
a origem não é tão importante assim. Mas o legal da universidade maior é que há
muito mais oportunidades de projetos de extensão e estágios.
Uma coisa tenha em mente: na
fisioterapia você trabalha muito mas a remuneração é limitada. No início de
carreira dificilmente você terá um bom salário. A maioria dos meus colegas
começou trabalhando por muito pouco, até mesmo pagando pra trabalhar. A diferença entre quem prospera e passa o final da vida patinando é
a gana de seguir em frente e não perder o foco de crescer e fazer mais através
da fisioterapia. Tem que estar também de olho nas oportunidades e acima de tudo
saber construir uma rede de contatos. Levou muito tempo pra eu descobrir que
faculdade de origem, quantidade de cursos e congressos, notas ... tem uma
importância muito pequenina perto do estabelecimento de contatos profissionais.
Parece que não tem empregos na área mas a bem da verdade com o tempo você
descobre que muitas vagas não são anunciadas ... as melhores vagas são muitas
vezes preenchidas através de rede de contatos sem nunca aparecem num anúncio ou
algo assim.

Mas tenha em mente que isso é bem
difícil de ser colocado em prática em boa parte das áreas. Isso porque a
população em geral ainda valoriza pouco o trabalho do fisioterapeuta. Muitas
vezes desconhece nosso trabalho e muitas vezes mesmo quando o conhece e se
beneficia dele, não está disposto a pagar muito pelo serviço, mesmo sabendo de
todo o potencial de melhoria que possa ter com ele. Esquece essa ideia de que basta você trabalhar
duro e ser muito bom no que você faz ... o mercado não depende só de você,
infelizmente. A maioria esmagadora dos
fisioterapeutas acabará trabalhando no sistema de convênios, pois temos uma
grande dependência deles: muito trabalho e uma renda apertada é a grande
companheira desse sistema. Eu já tive
clínica e sei bem o quanto é desesperador o malabarismo a ser feito com o baixo
valor pago pelos convênios e os altíssimos custos pra manter uma empresa,
principalmente tendo funcionários. Não é a toa que grande parte das clínicas
vai contratar sem ser por carteira assinada, as vezes baseado apenas em oferecer
uma porcentagem dos valores pagos pelo convênio. E a rotina passa a ser
bastante estressante, limitada pela correria por ter que atender muita gente ao
mesmo tempo – única forma da conta fechar. É ruim pro funcionário, é ruim pra
clínica, é ruim pro paciente. Mas ainda é a única saída de muitos. Mas não é
absoluto isso. Tem clinicas que conseguem contratar com carteira assinada,
principalmente quando elas tem incorporadas no seu trabalho outras fontes de
renda que não englobam convênios (como estética, PILATES, etc.)
O sistema público também é um
grande empregador e os concursos tem sido frequentes nos últimos anos. Muitas
prefeituras contratam para o trabalho no Nasf, PSF, para atenção especializada
em reabilitação ou ainda para hospitais. Mas apesar de grande empregador,
poderia ser muito mais. Nos deparamos com inúmeros editais para concursos para
profissionais da saúde em tudo que é lado do país solicitando os mais diversos
cargos ... uma minoria deles inclui o fisioterapeuta. É um total descaso e desvalorização
para com a nossa profissão. E é também aqui no setor público que notamos
geralmente uma vantagem importante em função da nossa limitação de carga
horária de 30 horas por empregador. Isso resulta em vermos nossa remuneração
cair lá embaixo ... e eles se acostumaram tanto em pagar menos pra fisio, que
eventualmente vemos concursos onde é a mesma carga horária no entanto outras
profissões como enfermeiro ou psicólogo recebem até 20 a 30 % mais que a gente.
Outra área onde não falta
trabalho são os hospitais: internação, UTI geral, UTI pediátrica e neonatal, UTI
cardiológica e neurológica, centros de queimados ... etc. A remuneração varia
muito e depende muito do empregador, do sistema de trabalho. Ainda há muitos
hospitais que contratam através de terceirização, o que gera um vínculo
precário e menos benefícios trabalhistas e comumente a remuneração é mais
baixa. O perfil do hospital também vai
influenciar bastante, pelo menos no que diz respeito aos hospitais não
públicos. As residências multi alavancaram a inserção de muitos profissionais
em hospitais, hoje em dia muitos deles se bastam com a experiência da
residência pra decidir por uma contratação.
Portanto vale muito a pena partir pra uma residência após a faculdade se
você tem intenção de se inserir na área hospitalar em especial.
Mas no final das contas, o que
querem saber é números ? Bom, vamos tentar esclarecer. No resumo da ópera posso
afirmar pra vocês que muitos fisioterapeutas trabalham por menos de mil reais,
mas quanto maior o tempo de serviço maior será o salário. Ou seja, siga trabalhando firme e tenha
paciência. Se você for ter como base só os recém formados e a opinião de quem
está desgostoso com a profissão, vai se deparar com uma realidade que não é
absoluta. Vai pensar que tudo está um caos e não há nem emprego e os salários
são de miséria. Mas de forma geral, quando você persiste na profissão, logo
alcança de 2 a 3 mil reais de salário e acumulando empregos pode facilmente
chegar a 4 a 5 mil reais. Quem empreender, conseguir investir em áreas com maiores
possibilidades de cobrança por sessões particulares, conseguir se livrar da
dependência dos convênios, pode fazer os valores atingirem valores mais altos.
Mas que fique claro que pra isso dificilmente vai ter vida mansa, vai trabalhar
pra dedéu. Muito mesmo. Outra opção é
partir pra área do ensino ... como em qualquer área de ensino superior, um
doutorado abre portas pra vagas com salários mais altos e toda aquele frenesi
envolvido na vida acadêmica. Mas essas vagas são poucas, surgem lá de vez em quando
e é preciso abrir mão de laços com a cidade de morada atrás dos locais onde tem
vaga pra doutor. O mestrado já não tem mais tanto valor como teve outrora pois
hoje já é o mínimo que se espera pra quem quer entrar pro ensino. Lembrando que
quem optar por ir pra área de ensino apenas com especialização ou mestrado terá
provavelmente um rendimento similar ao do fisio atuante em outras áreas.
Minha sugestão pra quem já está
na faculdade e já está preocupado com o futuro pós formatura: Se você quer ir
pra área hospitalar, vá atrás de opções de residência (você vai receber para
trabalhar um valor que ao menos te permitirá se manter na cidade e custear teus
gastos enquanto se especializa). Se você
quer ir pra área de ortopedia, procure pelas clínicas da sua cidade e descubra
o que eles oferecem de serviço aos seus clientes. Tente conversar com os
proprietários, explique que é estudante e gostaria de saber quais as
habilidades e cursos eles valorizariam hoje se fossem contratar um
fisioterapeuta no momento. Procure fazer
cursos que envolvam esses conhecimentos. Durante a faculdade procure participar
de congressos e cursos rápidos que tiver acesso, mas no pós faculdade valorize
mais os cursos de formação (maitland, Mackenzie, terapia manual, etc) pois um
curso de formação te dá mais potencial pra conseguir uma vaga do que 2 dúzias
de congressos ou mesmo cursinhos rápidos feitos nos pré-congressos e simpósios.
Não conheço muito da área da neuro mas acredito que deve valer o mesmo da
ortopedia: invista em cursos de formação.
Para ir para áreas de saúde da mulher, geriatria, e outros nichos menos
esperados você pode ainda dispensar especializações ou cursos de mais tempo de
duração pois essas áreas ainda carecem MUITO de profissionais e você sabendo
trabalhar bem, fazendo cursos rápidos, participando de projetos de pesquisa na
faculdade e dando continuidade aos contatos na área, pode ser um pontapé pra
seguir na área. Não estou tirando o mérito indiscutível da grande valia de uma
especialização ou residência na área, mas realmente são poucas as pessoas que
seguem ainda pra esse lado e por isso é mais fácil se inserir no meio quando
você trabalhar por isso. Para entrar na área do esporte já é bem mais difícil:
é um grupo bem seleto. Você deve investir nos cursos de formação, se possível
fazer uma especialização mas preferencialmente começar desde a faculdade a se
inserir no meio. Se não for possível, tente conseguir entrar no meio fazendo
seu trabalho em agremiações, times pequenos, times amadores, etc. Você inicialmente
pode até mesmo não receber quase nada por isso mas é uma dessas aeras que pode
precisar de mais perseverança pra entrar no pequeno funil. Já pra entrar na saúde pública, uma
residência em atenção básica ou similares pode ser favorável mas ainda poucos
lugares exigem .. mas já começa a te dar uma bagagem boa pra ir encarando os
concursos na área. Nessa área você dificilmente entrará de outra forma (embora
algumas cidades terceirizem a contratação de alguns setores da saúde como o
Nasf - o que pode permitir ingresso vai
processos seletivos mais simplificados).
E para quem quer ir pra área de ensino, é fundamental se agarrar na
faculdade nos professores que estão inseridos em projetos de pesquisa e
ajudá-los em suas pesquisas. Produza: Faça artigos, ajude nos artigos, colabore
nas coletas de dados. Isso te abre oportunidades pra emendar um mestrado.
Produzir é fundamental !
Falei demais já né? E acreditem,
não falei nada ! Tem muitas áreas da fisioterapia que não comentei. Mas espero
ter ajudado com um pouquinho. Quem sabe no futuro abre um espacinho por aqui
pra eu falar sobre o meu dia-a-dia na profissão ! ;)
Escrito por: Paty Pimentinha, convidada do blog para a nova TAG profissões
Uhuuu ! Que legal !!!
ResponderExcluirMais uma vez obrigada pelo espaço, bjs !!!
Eu que agradeço pela sua participação e por esse texto maravilhoso!!!
ExcluirBeijos!
Gostei muito do seu texto Paty.Tenho admiração e respeito pelo profissional fisioterapeuta, tivemos uma experiência bem positiva que só reforçou a compreensão da necessidade deste profissional,minha filha passou por vários ortopedistas e quem fechou o diagnóstico foi a fisioterapeuta.Parabens
ResponderExcluirEba mãe que bom você aqui!! Fisioterapeutas são admiráveis mesmo! Inclusive essa o específica que você mencionou!
ExcluirSuperou todas as pesquisas q eu já tinha feito, sobre qual cursos fazer depois da faculdade! Parabéns
ResponderExcluirQue bom que superou! A Paty arrasou muito nesse texto!!
ExcluirDesmotiva qualquer um que pense em iniciar uma faculdade de fisioterapia
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