19.1.18

RESENHA | Os Miseráveis - Victor Hugo


Um livro atemporal que traça um panorama da miséria na França pós Revolução Francesa. 
Os Miseráveis traça a trajetória de Jean Valjean desde o recebimento de sua liberdade condicional até a sua constante fuga das autoridades. Ele não era um homem mau. A injusta pena o tornou assim. 
Quando saiu da prisão era visto como um homem perigoso. E após um assalto na casa de um bispo que lhe deu abrigo, alcança a sua redenção ao ser inocentado por este. 

Título: Os Miseráveis
Título Original: Les misérables
Autor: Victor Hugo
Tradutor: Frederico Ozanan Pessoa de Barros
Editora: Cosac Naify
Ano: 2012
Número de páginas: 1976

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A primeira prova da caridade de um sacerdote, sobretudo de um bispo, é a pobreza. (p. 84)


Numa outra parte da França, assistimos Fantine e sua decadência. De operária a prostituta. Manteve-se pura enquanto pôde. Porém uma mãe solteira no século XIX não era bem vista na sociedade, e por isso foi demitida. Mas precisava pagar as despesas da filha, que estava sendo cuidada por um casal dono de uma hospedaria. 

De sofrimento em sofrimento, chegara à convicção de que a vida é uma guerra, e que nessa guerra ele era o vencido. (p. 141)
Alguns anos depois, Jean Valjean e Cosette, sua filha de criação vivem uma vida confortável em Paris. Claro que ele continua sendo perseguido pelo inspetor Javert. Nessa Paris vive Marius, um jovem revolucionário que se apaixona por Cosette. Mas ele precisa lutar nas barricadas para tirar o absolutismo da França. 

Eu demorei cerca de um ano para ler as quase 2.000 páginas desse livro. Entretanto, a narrativa é gostosa, a leitura é fluida, e o vocabulário não é muito complexo. O livro é cheio de notas de rodapé que explicam cada personalidade ou lugar citado.


O fluxo da história varia o foco do personagem, e também muitas vezes o autor interrompe o desenrolar da narrativa para explicar algum acontecimento que servirá como pano de fundo para sua obra. Isso porque Victor Hugo encaixou personagens fictícios em contexto histórico real e o resultado é surpreendente. 

As histórias individuais dos personagens retratados se cruzam aos poucos e eles vão se encontrando. Os fatos são bem amarrados e aqui vemos personagens redondos. A grande maioria sofre mudanças durante a narrativa. 
[...] quem só viu a miséria do homem nada viu; é preciso ver a miséria da mulher; quem só viu a miséria da mulher nada viu; é preciso ver ainda a miséria da criança. (p. 1021)

O leitor pode ser transportado para a França de 1830. Mas não para as cortes e festas pomposas. Para as ruas, para o cotidiano do parisiense pobre, maltrapilho, que enfrenta o inverno rigoroso vestindo uns poucos trapos. 


E é por isso que essa obra é atemporal. Enquanto houver miséria no mundo esse livro será importante. De uma forma muito sensível ele denuncia os horrores da fome, das injustiças sociais, da opressão de um Estado com impostos abusivos que comprometem praticamente toda a renda do pobre que não tem como se alimentar, como se vestir, onde morar. 

Desnuda a decadência que uma mulher pode se submeter ao tentar dar uma vida digna à filha, vendendo cabelos, os dentes e "o resto", ou seja, um corpo praticamente morto. 

Expõe as batalhas enfrentadas por civis, jovens, estudantes, e até mesmo crianças na esperança de um país mais justo. No qual o povo possa exercer o poder que de fato tem. Que não seja obrigado a sustentar uma população improdutiva e sem função social alguma, que depende do baixo salário de milhões de miseráveis para custear seus luxos, suas festas e banquetes. Enquanto esses injustiçados trabalham dia e noite, maltrapilhos, no frio, se alimentando mal porque são obrigados a pagar impostos. 


Denuncia um sistema carcerário injusto que condena a 20 anos de trabalho forçado um homem que roubou um pão para alimentar os sobrinhos. E uma lei que coloca sob condicional um ex presidiário, obrigando-o a carregar um documento que o impede de trabalhar, de se hospedar em uma pensão qualquer. Que praticamente o obriga a reincidir na criminalidade e voltar aos trabalhos forçados. 

Não basta destruir os abusos; é preciso mudar os costumes. (p. 72)

Em algumas partes parece que estou falando do Brasil do século XXI. E isso prova como esse livro ainda é atual.

Domingo postarei um vídeo analisando esse livro por um outro viés. Depois colocarei nessa mesma postagem.  (edit: 21/01/2018 - O vídeo já está aqui!)


Minha nota não pode ser menos que a máxima para esse cânone da Literatura mundial. 




7 comentários:

  1. Oi Lívia!
    Amei amei a resenha, me deu ainda mais vontade de ler esse mega livro (mega no tamanho e no conteúdo). Eu achava que talvez fosse uma leitura difícil, mas fiquei feliz em saber que foi fluida e tranquila, apesar do tamanho.
    A crítica social que foge ao tradicional reviver do passado com a nobreza é muito bem vinda e não tenho dúvidas de que é um retrato do mundo que vivemos.
    Desejo literário anotado! <3
    xoxo

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    1. Quando ler me conte o que achou! Longe de ser uma leitura difícil!

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  2. Eu me apaixonei por este livro e a embalagem hahaha
    Achei ele bem interessante, será que vai ter continuação?

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  3. Sempre quis ler esse livro ou pelo menos assistir o filme kkkkk, adorei sua resenha...
    Beijos!!

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    1. Eu assisti o musical e o filme mais antigos. São muito bons, valem a pena! Fico feliz que tenha gostado!

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  4. Quero MUITO ler essa obra. Tenho a edição da Martin Claret aqui em casa, mas confesso que o tamanho ainda me assusta :o

    Toca da Lebre

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Ilustração por Wokumy • Layout por