16.10.15

Resenha: Sonetos


Título: Sonetos
Autor: Luís de Camões
Editora:Martin Claret
Ano: 2013
Edição: 4ª
Número de páginas:197
ISBN:9788572329255

Como eu disse na resenha de Lira dos Vinte Anos, eu não sou muito chegada em poesia. Porém, esses sonetos me surpreenderam. Camões é talentoso em tudo o que faz. Os sonetos tratam, em maioria, sobre o amor do poeta pela Dinamene, provavelmente a mulher chinesa que Camões conheceu em uma de suas viagens e que morreu em um naufrágio, no qual supostamente o poeta optou por salvar os manuscritos de Os Lusíadas e acabou esquecendo-se da amada. Por isso, há poemas carregados de dor, de angústia e saudade.
A métrica camoniana é impecável, são dois quartetos e dois tercetos decassílabos como manda o classicismo, período literário do qual Camões é um representante importante na literatura mundial. 
Queria aproveitar para lembrar que o vestibular está chegando e este livro consta na lista de obras obrigatórias da Unicamp, e que não só ela, mas muitos vestibulares, inclusive o Enem adoram o maior poeta da língua portuguesa. De seus sonetos é possível tirar questões sobre os períodos literários, sobre a Era Clássica (em História) e até mesmo sobre o período moderno, comparando-o com a Idade Média. De Os Lusíadas podem ser cobrados temas como o pioneirismo português nas Grandes Navegações, sobre epopeias e até mesmo  uma interpretação de texto, visto que é um poema gigante narrativo. Poderia me estender aqui falando sobre os Lusíadas, mas não é este o foco. 
Eu separei aqui dois sonetos que julguei importantes. O primeiro já vi bastante nas apostilas do cursinho e o segundo me pareceu bem cheio de referências e intertextualidades.
Soneto 30

Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la, 
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assim negada a sua pastora, 
como se a não tivera merecida,

começava de servir outros sete anos,
 dizendo: - Mais servira se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.


O soneto tem uma clara referência bíblica (Gênesis 29) e traz uma historia muto bonita sobre amor e persistência. É um dos mais famosos sonetos do autor. Como questão, pode-se cobrar a influência da religiosidade na arte, sendo Camões um renascentista. Vale lembrar que apesar das críticas à Igreja e a adoção ao ponto de vista antropocêntrico, as obras mais famosas do Renascimento são de referências bíblicas (A Santa Ceia, Davi, Madonas, o teto da Capela Sistina...).

Soneto 65

Ferido sem ter cura parecia
o forte e duro Télefo temido, 
por aquele que n'água foi metido,
a quem ferro nenhum cortar podia.

Ao Apolíneo Oráculo pedia
conselho para ser restituído;
respondeu que tornasse a ser ferido
por quem o já ferira, e sararia.

Assim, Senhora, quer minha ventura,
que, ferido de ver-vos, claramente
com vos tornar a ver, Amor me cura.

Mas é tão doce vossa fermosura, 
que fico como hidrópico doente
que com beber lhe cresce mor secura. 

Este soneto inicia com uma referência à Mitologia Grega, falando de Télefo, filho de Hércules, ferido por Aquiles (aquele que foi mergulhado na água, que não pode ser ferido com arma alguma, vulgo Brad Pitt em Troia). Também refere-se ao Oráculo de Apolo, que fornecia respostas aos gregos. Em seguida, o eu-lírico trata a amada por Senhora, o que me lembrou bastante o trovadorismo  a poesia palaciana e eu diria que estas Escolas tiveram uma influência nesta obra. Os dois quartetos servem como uma metáfora, ou até mesmo como uma explicação às duas estrofes sentimentais, nas quais o poeta afirma que só pode curar a saudade vendo a amada. Queria apontar também a personificação do amor, visto que é escrito com letra maiúscula (prosopopeia). 

Eu li esta edição de bolso da Martim Claret, e ela acompanha algumas questões de vestibular (não tem gabarito), ficha de leitura, prefácio que explica um pouquinho e a parte que mais ajudará os vestibulandos de plantão além dos sonetos em si: algumas páginas de contextualização da obra. Por serem sonetos, não posso reclamar de letras miúdas e espremidas, como a Martim Claret costuma fazer (mesmo assim tenho um monte de livros da editora, o preço me convence). Cada sonetinho ocupa uma página. Tem várias notas de rodapé dando algum significado, um contexto, ou até mesmo explicando um pouquinho (bem pouquinho mesmo). Essa não é a edição que a Tatiana Feltrin (Blog e canal Tiny Little Things) ou que a Nathalia Mondo (Blog e canal Pipoca do Vô) recomendaram, que vem com explicações. Eu comprei esta por engano, a cor da capa é bem parecida.  

Bom, este é o último livro que li de vestibular. Nas próximas resenhas vou falar de O Retorno do Jovem Príncipe do A.G. Roemmers e de Amar, verbo intransitivo do Mário de Andrade (caiu na UFSC uns três anos atrás, mas pelo o que eu vi não consta mais na lista). O próximo sorteado da TBR Jar foi Esaú e Jacó, do Machado de Assis, mas vou demorar um pouquinho para lê-lo (quem me acompanha no Skoob ou costuma olhar a barra lateral direita do blog sabe que estou com duas leituras em curso e estou bem longe de terminar , snif snif). Até o ano passado ele estava na lista da UFRGS, mas sinceramente não sei se ele continua como obra obrigatória. Então, mesmo se estiver, não garanto que a resenha saia antes do vestibular. 
E para terminar, vou pedir a sugestão de vocês, espero ver respostas nos comentários. Vocês querem um post semana que vem dando dicas para o Enem? Eu já prestei o Enem quatro vezes, então tenho algumas experiências para compartilhar, algumas coisas que me ajudaram bastante. Se tiverem interesse eu posto aqui um Especial Enem. 
Beijos, até mais!


8 comentários:

  1. Olá, Lívia!
    Eu assisti a resenha do livro Sonetos, no canal da Tatiana Feltrin. E como os sonetos de Camões são muito conhecidos (mesmo que você não goste de ler, conhece o verso "Amor é fogo que arde sem se ver"), posso dizer que já conheço o Soneto 30 (sobre Lia e Raquel), mas não conhecia o 65, e ainda não li Os Lusíadas. Epopeias me assustam um pouco! kkkk

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    1. Oi, Lethycia!
      Também não li Os Lusíadas, mas pretendo lê-lo algum dia. Quanto a Sonetos, tem uns poemas muito bonitinhos, marquei vários! Mas acabei fazendo o post mais voltado para o vestibular mesmo, então coloquei esses dois que julguei mais importantes. Mas não sou profissional nem nada, só me baseei na experiência mesmo! Professores, me corrijam se eu estiver errada!
      Beijos, obrigada por comentar!

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  2. Oi Lívia, adoro sonetos, tenho 'Os Lusíadas', mas nunca li :´(

    Parabéns pela resenha!

    Beijokas da Quel ¬¬
    http://literaleitura2013.blogspot.com.br

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    1. Muito obrigada, Raquel! O bom de Sonetos é que dá para ler um pouquinho por dia. Já os Lusíadas não sei se tem como, então acho melhor esperar a inspiração mesmo!
      Beijos!

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  3. Também não sou muito fã de poemas, mas se você que também não é e gostou, então vale a pena tentar.
    Sobre a sua pergunta no meu blog, se você cria um domínio, ele é seu. Por isso se você quiser ir para outra empresa de hospedagem, eles vão migrar tudo e sua URL vai continuar a mesma.

    Beijos, Love is Colorful

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    1. Barbara, muito obrigada pela atenção e pela visita! Tente sim, não irá se arrepender! Muito obrigada por responder minha pergunta também!
      Beijos, seja bem vinda a bordo!

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  4. Amei a resenha, amo camões <3 Não poderia estar mais feliz haha Com certeza voltarei mais vezes aqui, de verdade.

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    1. Que bom que gostou! Também gosto muito de Camões! Ele escrevia tão bem que não dá para explicar! Volte mesmo!!! Seja bem vinda a bordo!

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