27.7.18

Resenha | Jane Eyre



Hoje vamos falar de um liro muito especial. Um livro que me abriu os horizontes para outros clássicos, me mostrou que sou capaz de escolher boas leituras e me tocou profundamente. Estou falando de Jane Eyre. 

Eu comecei a leitura graças à leitura conjunta do Literature-se.  E foi uma experiência completamente diferente do que eu imaginava. Depois da minha decepção com Orgulho e Preconceito fiquei meio insegura quanto a romances clássicos. Imaginava que Jane Eyre seguiria pelo mesmo caminho de poucos acontecimentos e muitos diálogos. Ledo engano! A vontade era ler muito mais do que as páginas estipuladas pela Mellory!

O mais legal é que poucos dias antes eu tinha olhado o catálogo dos livros gratuitos do Kindle e encontrei esse, traduzido, publicado pela KTTK. E baixei por baixar mesmo.  Quando ela lançou a leitura conjunta, resolvi participar. Eu nunca tinha participado de um projeto assim, com todo mundo lendo até o mesmo ponto do livro na mesma época. 

FICHA CATALOGRÁFICA

Título: Jane Eyre
Autora: Charlotte Brontë
Tradução: Leyguarda Ferreira
Ano: 2018
Editora: KTTK
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Jane é uma menina órfã criada pela tia. Ela é muito rejeitada na casa, tida como uma menina rebelde (quando na verdade era apenas convicta de suas opiniões) e era maltratada pelos primos, principalmente John, que desde a infância apresenta-se maldoso com a Jane. Depois de ser severamente castigada pela tia após uma briga com um primo, ela é mandada para Lowood, uma instituição mista entre orfanato e internato, para onde iam meninas como a Jane, rejeitada pelas suas famílias. 
"É menos que criada, porque não compensa o que lhe dão com o seu trabalho"

Jane passa dos 10 aos 18 anos sofrendo as mais diversas privações e castigos. Era uma instituição cristã, que pregava que as meninas deviam viver miseravelmente para que alcançassem a verdadeira salvação. E Jane achava aquilo de ser submissa muito errada. Porém pegou o jeito, tornou-se uma das melhores alunas e virou professora da instituição.

Mas Jane Eyre era um espírito livre! Aquela vida de professora não era mais o suficiente para a garota. Então ela resolve ser preceptora em casa de família para mudar um pouco seus horizontes. Assim, ela vai a Thornfield educar a protegida do Mr. Rochester, a francesa Adela.  A partir daí posso extrair duas visões.  A primeira é a  da supremacia cultural inglesa (acreditava-se que a severa educação inglesa podia "corrigir os maus modos franceses"), e isso pode ser pautada em séculos de guerras e rivalidades entre os dois países.  A segunda visão que observei é do papel social da preceptora (não tirei isso da minha cabeça, aliás só fui perceber isso com as reflexões da Mellory em seu comentário sobre a obra). Ela chega a aproximar-se de um agregado, pois não é criada, embora também não seja membro da família.
"À medida que cresceu, a educação inglesa corrigiu-lhe os defeitos franceses"

E a Jane sofre muito com o tédio de Thornfield. Há um ócio muito grande nos momentos em que não está educando Adela. E aquele não é o lar dela. Aliás, ela não tem um lar. Mora e trabalha na mesma casa. Há um sentimento de deslocamento muito grande. E isso muda um pouco quando ela finalmente conhece o dono da propriedade, Mr. Rochester, e como era de se esperar apaixona-se por ele, embora fique reforçando para si mesma que ela não é digna dele. 

A partir daqui eu paro um pouco de dar detalhes sobre a história. Só digo que nada pode ser fácil para a pobre Jane. Que mulher que sofre!! E mesmo assim vemos a sua força, a sua persistência e o seu caráter.  Acima de tudo, Jane Eyre é humana e a autora Charlotte Brontë soube retratar isso muito bem. 


Ainda sobre os méritos da autora: Charlotte escreve de uma forma sensacional! Não dá para parar de ler. É uma história genial, com um bom encadeamento dos fatos e há suspense na medida certa. E posso dizer com propriedade que a escrita é boa: se não o fosse, a péssima tradução da KTTK teria estragado a narrativa completamente.
"Todos sabem que os preconceitos se tornam mais difíceis de desenraizar de um coração rude, que nunca foi desbravado pela educação"
A edição deixou a desejar também quanto a notas de rodapé (não tinha nenhuma sequer) e textos de apoio. Sinto muita falta deles em clássicos, pois eles me levam a aprender muito sobre o contexto socio-cultural em que se passa a obra. Por isso que não gosto de ler clássicos em e-book. 


Eu me surpreendi com a obra.Imaginei que fosse um livro chato, meio romancinho água com açúcar, mas a história de Jane, tão difícil e tão cheia de reviravoltas para uma moça tão jovem me surpreendeu. 
" É dócil, trabalhadora, desinteressada, fiel, corajosa, meiga e, ao mesmo tempo, heroica"

A narrativa acontece em primeira pessoa e deu uma visão muito intimista. Parecia uma espécie de diário ou de livro de memórias da Jane. O final é feliz, como eu esperava. Mas não muito óbvio por causa de certos acontecimentos. E vemos muito na obra a visão da época em que o homem se achava superior à mulher e se sentia no direto de ser possessivo com ela, além de querer definir o seu destino. 

O livro é cheio de frases sensacionais, daquelas para marcar no caderninho e usar de legenda no insta. E teve apenas uma situação que achei conveniente demais: ela diz respeito a St.John e sua relação com Jane. Aliás, apesar desse personagem ser no geral bondoso, peguei ranço pela forma como ele quer obrigar a Jane a largar tudo e casar-se com ele para tornar-se missionária. Jane, mesmo sendo uma mulher que tenta agradar a todos, nunca se esquece de seu caráter e suas convicções. Outra coisa legal nela é que ela não faz rodeios. Fala na cara mesmo o que está pensando. Adoro!! 
" Disse-me, claramente, que deseja casar-se apenas porque a sua missão o exige, que eu nasci para o trabalho e não para o amor, que não fui feita para casar. Acha natural comprometermos a vida com um homem que nos considera como uma simples ferramenta de trabalho?"

Vocês já perceberam o quanto eu gostei da obra. Recomendo muito a leitura. Aliás é um bom clássico para quem está começando nesse universo. Porque não tem como parar!

Nota:


20 comentários:

  1. A história me parece ser bem legal! Confesso que também tenho medo de romances clássicos serem chatos, mas sua resenha é bem convincente, hahaha!

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  2. É tão bom quando nos surpreendemos com algo, né? Não sou de ler romances, sou adepto a ficção, mas me instigou a pesquisar sobre o livro e, talvez, o ler. <3

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    1. Também não sou a maior fã de romance, mas esse está mais pra drama, porque a coitada da Jane só sofre

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  3. Eu nunca li romance classico, exatamente pelo medo de não gostar, de ser chato pra mim. Mas, pelo que contou, parece ser uma boa história, quem sabe eu arrisque rs

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    1. Mulher, não precisa ter medo não... Romance não morde! Esse é ótimo pra começar

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  4. Eu comprei esse livro faz tempo (na verdade, comprei um box que vinha um monte desses romances clássicos, inclusive Orgulho e Preconceito hahah) e até hoje nunca li :( É que as narrativas são bem diferentes das que estamos acostumados, de cabeça o único que lembro ter lido - e tem resenha no blog rsrs - é Persuasão, da Jane Austen. Também tem O Morro dos Ventos Uivantes que é meu preferido, mas daí é outro tipo de romance rs

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    1. Jane Eyre é bem diferente de Orgulho e Preconceito. É mais pro drama, tem mais coisa acontecendo e menos diálogos

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    2. E o Morro dos Ventos uivantes é mais drama ainda! São 3 livros mt diversos

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  5. Oi! Tudo bem?
    Primeiro de tudo: você é a primeira pessoa que vejo dizer que se decepcionou com Orgulho e Preconceito! Jane Austen é um de minhas autoras favoritas haha
    Quanto a Jane Eyre, nunca li. Sequer sabia do enredo. Mas já me interesse muito porque acompanhei alguns comentários da Mell e fui me apaixonando!
    Literalize-se

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    1. Todo mundo ama tanto... Mas não gostei. Preciso reler pra ver se muda hahahaha

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  6. Eu gosto de como as irmãs Brontë, apesar de terem estilow diferentes, passam uma visão mais vida real das coisas. Apesar de gostar de Jane Austen as histórias dela são quase contos de fadas, né?
    MORRO DE VONTADE de ler Jane Eyre! Seu post me deixou com mais vontade ainda! Acho a história sensacional!

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    1. Nossa, os estilos são completamente diferentes mesmo! Já li Emily e nem parece que é irmã da Charlotte

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  7. Estou lendo Orgulho e Preconceito, mas dei uma parada com a leitura, pois, sinceramente, achei meio chato e parado. Tudo bem que o livro foi escrito há tempos, e eu não tiro o peso que ele tem para a literatura, mas acho que sou fã de outro tipo de clássico.
    Adorei a sua indicação, achei a história muito legal e fiquei curiosa para saber como termina. Entrou para a minha lista de leitura :)
    beijos.

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    1. Até que enfim alguém que me entende!!! Senti exatamente isso lendo Orgulho e Preconceito. Talvez Jane Eyre seja mais seu estilo

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  8. Adoro romances clássicos! A sua resenha ficou ótima, já quero o livro para ontem. Estou mega curiosa para saber como termina. Bjs,
    onlinedreamerweb.wordpress.com

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  9. Nossa, já to muito mais interessada no livro! Antes da sua resenha, meu interesse nele era pela curiosidade, já que só depois de muito tempo que li O morro dos ventos uivantes foi que eu descobri que a Emilly Brontë teve irmãs escritoras. E queria ler Jane Eyre só por causa disso. Mas agora já tenho um motivo novo pra querer conhecer essa história!

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  10. E concordo com o que você disse sobre notas de rodapé. Livros clássicos são um tipo de livro que eu não hesito em procurar uma edição de luxo ou pelo menos uma mais caprichada, só por causa das notas de rodapé (a beleza das edições também colabora, é claro! kkk). Aprendi muito bem com A Divina Comédia e Os Miseráveis a importância das notas de rodapé.

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  11. Você poderia por gentileza informar o motivo pelo qual algumas edições da mesma obra os valores dos e-books variam tanto? Seria o motivo específico desses titulos específicos da editora KTTK traducão? Você saberia informar se as traduções dessa editora KTTK realmente valem a pena? É realmente bom encontrar esses clássicos a preços módicos e as vezes até gratuitos porém fico preocupado com a tradução pois não adianta de nada se a tradução não for minimamente bem feita. Obrigado por ler o comentário,abraços.

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