É errado um booktuber cobrar por uma resenha?

A nova treta do mundo literário envolve mais uma vez o publieditorial no booktube. Um autor expôs em suas mídias sociais a tabela de preços de uma booktuber famosa, usando de uma ironia sem fim para questionar o fato da booktuber em questão cobrar pelo seu trabalho. Não vou expor ainda mais a pessoa que teve seu orçamento divulgado, nem o autor (pois não quero dar-lhe confete). Tampouco entrarei no mérito de falar se tais valores são caros ou baratos. 

Mas como booktuber nem tão iniciante aqui, resolvi me posicionar. E para isso vou jogar alguns questionamentos: Você acha justo a sua cabeleireira cobrar por um corte? O seu médico receber por uma consulta? O caixa do supermercado merece receber salário para ficar sentado passando compras o dia inteiro? Se você tiver um mínimo de sensatez, suponho que tenha respondido sim para essas perguntas. E para quem respondeu ao menos uma com um "não", queria dizer que amor à profissão e boa vontade não paga contas nem os anos de investimento que você teve para conseguir aquela profissão. 

Por que então uma pessoa que trabalha com internet não merece receber? Em todos os outros nichos de blogs e canais no YouTube é até naturalizado que os produtores de conteúdo recebam para ir em eventos, para falar de produtos ou até mesmo que recebam doações de seus espectadores para continuarem produzindo conteúdo. 

Quem estudou um mínimo sobre monetização sabe muito bem que Adsense remunera muito pouco (estou há 3 anos trabalhando com o blog e não juntei 5 dólares) e que para receber alguma coisa de programa de afiliados você precisa convencer o leitor a comprar especificamente pelo seu link (eu como leitora afirmo que quase nunca faço essas compras, pois acabo deixando para comprar os produtos que me foram apresentados muito tempo depois de ter visto a indicação). 

Além de tudo, o cerco anda fechando para os pequenos blogueiros: Os programas de afiliados costumam exigir CNPJ para que você possa se associar. E para manter um CNPJ ativo é preciso investir dinheiro nisso. 

Ter um blog ou canal na maioria das vezes significa pagar para trabalhar. Sim, você tem que investir em domínio, hospedagem, layout, vinhetas, CNPJ, equipamentos, em livros, cursos, feiras, transporte para chegar aos eventos, energia, o seu alimento, lugar para morar e trabalhar, infinitos outros gastos e até mesmo o seu tempo. 

Eu sou uma que paga para trabalhar. Que invisto um tempo em que poderia estar estudando matérias da faculdade para ler, editar, escrever, gravar e divulgar. E o que eu recebo esporadicamente pelo blog não me sustentaria nem por uma semana. 

O meio literário na internet é um nicho pequeno. E mesmo os mais famosos booktubers são insignificantes em termos numéricos em relação a  canais de humor e beleza. 

A produção de conteúdo é uma carreira nova. Está cada vez mais profissionalizada. Nunca vi nenhuma treta surgir por um ator ou apresentador cobrarem para aparecer na TV. Jogadores de futebol, cantores, atores ganham dinheiro a rodo com publicidade, seja na televisão, rádio ou revista , seja pela internet. 

Mas supostamente a Literatura é o braço da cultura colocado em pedestal. Todas as outras áreas podem receber pelo seu trabalho, a Literatura não.O autor tem que ser um eremita, morar numa cabana na floresta com uma máquina de escrever e doar todos os seus livros. O booktuber pode se desdobrar para trabalhar em outras áreas e estudar, porque o canal deve ser apenas um hobby. 

O booktuber tem os mesmos direitos que qualquer outro profissional de cobrar pelo seu trabalho. E cobrar para divulgar um produto (no caso o livro) não significa que a opinião seja comprada. Compra-se apenas o espaço no calendário editorial. Assim como se faz na TV. Por exemplo, uma marca de cerveja vai lá e paga para ter uma propaganda numa grande emissora em determinados horários. Ou uma marca de roupas paga para aparecer numa novela. Uma rede de restaurantes paga para aparecer como cenário de filme. Gente, tem propaganda o tempo todo, em todo lugar. Por que raios o booktube tem que ser diferente? 

Eu nunca cobrei por uma resenha por achar que não tenho um público suficientemente grande para garantir que o autor terá retorno do valor investido. Mas mesmo as resenhas de livros cedidos por autores e editoras são sinceras e estão sinalizadas. Mas pretendo sim começar com essa prática assim que tiver segurança para isso. Porque quero que o trabalho que tenho com o Check-in Virtual seja reconhecido e devidamente remunerado. Quero que o tempo que invisto aqui contribua para o meu sustento. Porque amor não enche barriga nem paga aluguel.